Um inverno em Portugal...


 Certa vez, quando tinha dezenove anos, Eu estava em Portugal, na casa da minha tia Alice, em uma pequena vila chamada Freixeda.  Era uma casa de verão, não tinha aquecimento central e como era de costume no local, morava-se sempre no segundo andar, o primeiro era somente para se guardar coisas e estacionar o carro. O inverno estava rigoroso, principalmente para mim que estava acostumado com o verão do Rio de Janeiro e até aquele momento eu nunca tinha visto neve. Como fazia muito frio aquele dia, eu estava vendo TV no quarto, embaixo de cinco cobertores, e ao lado de um aquecedor a gas portatil. Então minha mãe entrou no quarto bem feliz, gritando:
- Victor, Victor! Olha pela janela, esta nevando!

Me senti como Colombo quando descobriu a América. Aquilo era maravilhoso demais para mim. Então peguei um grande guarda chuva e fui passear pela rua no entanto não havia ninguém para dividir minha alegria, so eu; um brasileiro idiota que estava se divertindo enquanto congelava...


 Mas eu estava feliz assim mesmo, fiz bolas de neve que eu jogava em mim mesmo, lembre-se eu estava sozinho, anjinhos na neve, um boneco de neve, fantastico...passeei durante algum tempo com meu grande guarda chuva que ja parecia um marshmelow gigante.

 Como eu ja estava congelando,e você percebe isso quqndo não sente mais os dedos dos pés, fui até a casa de minha mãe e telefonei para o meu pai que estava no Brasil, so para dizer que estava nevando. Quando estava la na casa minha mãe, seu namorado, Manoel Joaquim, tipico nome português, me pediu para ir com ele caçar nos montes, algo comum na Freixeda. O namorado da minha mãe, mais conhecido como Lelo, era um cara esquisito, sempre de oculos escuros e casaco preto de couro, passava o dia polindo as armas, parecia o exterminador do futuro. Combinamos de sair as seis da manhã.

 Logo depois de toda essa diversao e euforia, eu fui para a casa de minha tia, deixei o guarda-chuva do lado de fora e voltei para frente da TV. Dentro do quarto fechado e com o aquecedor no maximo nao fazia tanto frio, entao eu ficava so com meus pijamas e os cobertores ao meu lado.

 Como eu estava de ferias, nao tinha hora para dormir ou para acordar, e portanto nao tinha sono. Ja passava da meia-noite, eu assistia um filme de terror quando comecou aquele assovio classico do vento que assustava, arrepiando todos os pelos da nuca. Puxei uma coberta para cima de mim, o que me deu uma certa segurança... o filme corria, motosserras roncavam, quando de repente comecei a escutar um som muito alto que fazia a casa vibrar, parecia um sino daquelas catedrais antigas européias, mas dentro da casa, fora do quarto... me enfiei rapidamente debaixo de todos os cobertores que havia no quarto.
 Algum tempo depois fui tomando coragem e tentei buscar uma explicação logica para aquele barulho... deveria ser um galho de uma arvore batendo na grade do lado de fora que fazia o barulho, obvio. mas lembrei rapidamente que nao havia nenhuma arvore perto da casa, e isso me fez ficar com mais medo e entao me escondi debaixo dos travesseiros tambem.  nisso ja era duas da madrugada. 
O som continuava de tempos em tempos. O medo fui se substituindo por raiva, e comecei a pensar que era algum portugues que queria fazer algum tipo de brincadeira  sem graça comigo. Naquela época eu treinava jiujitsu todos os dias, era faixa azul, que é a quinta de um total de oito. Ja estava cheio de raiva, o som ja tinha parado   ha alguns minutos e isso me deu coragem,  me levantei para simplesmente quebrar a cara desse filho da mãe, mas na hora que coloquei a mao na maçaneta o barulho veio mais forte que o habitual, acompanhado do assovio do vento. Em uma fração de segundos eu ja estava na cama debaixo dos cinco cobertores, travesseiros e um ursinho de pelucia que me protegia bravamente.

Eu tinha desistido, sabia que nao teria coragem para sair de la, e fiquei ali debaixo até as cinco da manha, de olhos fechados, mas sem conseguir dormir.  Como sabia que o Lelo viria me chamar para caçar, me levantei, ainda com medo, e comecei a me arrumar. Sabia que la fora fazia muito frio e comecei o meu ritual de vestimenta. Colocava as meias e as luvas em cima do aquecedor enquanto vestia uma, duas... cinco camisas, um casaco, duas calças, um sobretudo, entao pegava os dois pares de meias no aquecedor colocava as botas de couro e dois pares de luvas e completava o bolo de aniversario com um cachecol e um chapeu.
Respirei fundo e fui até a porta, contei até tres e  a abri... ao mesmo tempo, O manoel Joaquim abriu a porta com os oculos escuros, casaco de couro e duas escopetas, uma nas maos e outra nas costas....
 _Victor!- ele disse, mas soou como um "hasta la vista baby ". Senti minha alma sair do corpo, todos os pelos se arrepiaram,  fiz a pior careta que alguem pode fazer neste mundo, e, provavelemente, fiquei mais branco que uma folha de papel... o pior susto de minha vida! fiquei catatônico por alguns instantes, mas logo voltei ao normal. 

Fui a caça com o Lelo, mas nos nao pegamos nada, e entre um tiro e outro ficava pensando no que teria feito o barulho que me atormentou a noite inteira...o que estaria do lado de fora que era levado de um lado para o outro e batia na grade e a fazia tremer?  voltamos entao e quando estava subindo pra fazer minha investigação, descobri sem querer o que fazia o tal barulho... o guarda chuva gigante que eu tinha deixado do lado de fora...


Um forte abraço a todos, continuo aqui na França, cheio de saudades de vcs!!!
ps: perdoem a falta de acentos... mas ainda não aprendia utilizar os teclados europeus...

0 Responses