Livro defendendo erro de português?


ABL desaprova livro que defende erros de português

Ministério não irá recolher publicação distribuída a estudantes que gerou críticas de especialistas

A Academia Brasileira de Letras (ABL) criticou, em nota, o livro didático distribuído pelo Ministério da Educação (MEC) que defende erros de português. No comunicado, a ABL diz que “estranha certas posições teóricas dos autores” do livro polêmico.

– Todas as feições sociais do nosso idioma constituem objeto de disciplinas científicas, mas bem diferente é a tarefa do professor de língua portuguesa, que espera encontrar no livro didático o respaldo dos usos da língua padrão que ministra a seus discípulos – diz a nota.

Apesar das críticas de educadores e escritores, o MEC não pretende retirar das escolas o livro com graves erros gramaticais distribuído pelo Programa Nacional do Livro Didático.

Ao todo, 485 mil estudantes jovens e adultos receberam a publicação Por uma Vida Melhor, de Heloísa Ramos, que defende uma suposta supremacia da linguagem oral sobre a linguagem escrita, admitindo a troca dos conceitos “certo e errado” por “adequado ou inadequado”. Apartir daí, frases com erros de português como “nós pega o peixe” poderiam ser consideradas corretas em certos contextos.

– Não somos o Ministério da Verdade. O ministro não faz análise dos livros didáticos, não interfere no conteúdo. Já pensou se tivéssemos que dizer o que é certo ou errado? Aí, o ministro seria um tirano – disse um auxiliar do ministro Fernando Haddad, que pediu para não ser identificado.

Escritores e educadores criticaram a decisão de distribuir o livro, tomada pelos responsáveis pelo Programa Nacional do Livro Didático. Para Mírian Paura, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), as obras distribuídas pelo MEC deveriam conter a norma culta:

– Não tem que se fazer livros com erros. O professor pode falar na aula que temos outra linguagem, a popular, não erudita, como se fosse um dialeto. Os livros servem para os alunos aprenderem o conhecimento erudito.

Autor de dezenas de livros infantis e sobre Machado de Assis, o escritor Luiz Antônio Aguiar também é contra a novidade:

– Isso demonstra falta de competência para ensinar.

Em nota distribuída quando a polêmica se tornou pública, o MEC informou que a norma culta da língua será sempre a exigida nas provas e avaliações, mas que o livro estimula a formação de cidadãos que usem a língua com flexibilidade. O propósito, segundo o MEC, é discutir o mito de que há apenas uma forma de se falar corretamente. Ainda segundo o ministério, a escrita deve ser o espelho da fala.

Entenda o caso

- O Programa Nacional do Livro Didático, do Ministério da Educação (MEC), distribuiu a cerca de 485 mil estudantes jovens e adultos dos ensinos Fundamental e Médio uma publicação que faz uma defesa do uso da língua popular, ainda que com incorreções.

- Para os autores do livro, deve ser alterado o conceito de se falar certo ou errado para o que é adequado ou inadequado. Exemplo: “Posso falar ‘os livro’?’ Claro que pode, mas dependendo da situação, a pessoa pode ser vítima de preconceito linguístico”, diz um dos trechos da obra “Por uma vida melhor”, da coleção Viver, aprender.

- Outras frases citadas e consideradas válidas são “nós pega o peixe” e “os menino pega o peixe”.

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